sábado, 23 de julho de 2011

Uma música, um livro e vidas alheias

Sou uma pessoa que gosto de ficar sozinha, mas com muita movimentação ao redor, entende? Gosto de sentar em uma praça ouvindo música através dos fones ou lendo o meu livro. Detesto ser interrompida nesses momentos, detesto cumprimentos aleatórios se não haverá assunto, uma conversa prolongada. Mas gosto de olhar as pessoas, cada qual em suas ações. Gosto daquele casal que se beija, daquelas crianças que se escondem, daqueles homens que olham as mulheres passarem com suas belezas e tantas outras coisas. Mas na verdade, estou apenas ali, lendo o meu livro ou ouvindo a música. Minha vida é tão alheia quanto as vidas que observo por um momento. Vezenquando, sinto vontade de ter aquilo, entende? Mas gosto de ficar assim, sentada, lendo o meu livro/ouvindo música e observando pessoas. Mas detesto ser observada. Não gosto quando olham para meu livro, para mim. Nem mesmo quando apareço inesperadamente, quando não sou mais que um vulto destruindo a solidão de alguém, detesto que olhem para notar que eu estou logo atrás. Detesto minha presença constantemente notada, como se eu me movimentasse no dinamismo da vida. Gosto da quietude, gosto da paz e, quando sou notada, parece que tudo isso se afasta de mim. Uma sensação de desassossego, uma invasão em minhas ações, não sei. Quando me observam, parecem prontos para interromper o fluxo silencioso de minha existência. Viver dói, sabe? Sair, voar por aí, pular, correr... Dá uma vontade, mas sempre que me atrevo, volto para minha tranquilidade com dores no corpo, na alma... Um cansaço existencial, entende? Vontade de desistir de tudo, mas sou um pouco orgulhosa, sabe? Não entrego as pontas assim tão fácil. Gosto do movimento, mas não gosto de participar dele.

Bloodstained Alice

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Sobre mar, café, música e coisas perdidas

E fico sentada em minha cama, só pensando em como começar o dia - que está parcialmente nublado esta manhã - sem lembrar de você e dos dias anteriores, dias esses que pareciam ensolarados. Por mais frio que estivesse, tinha algo claro neles. Talvez fosse os seus olhos que contrastavam com a sua tez clara, com o seu sorriso radiante, com aquela energia que irradiava de seu corpo e me levava além. Nunca gostei muito dessas agitações, sabe? Gosto de sentar em meu canto, com o meu livro. Vezenquando um café cai bem. Uma pequena pausa na leitura para ouvir uma música tranquila, principalmente alguma composição que envolva o piano. Me perco naquelas notas. É como se pudesse ver o pianista tocando, e este extraísse a música de dentro de mim. Mas depois, um pouco cansada e confusa por ser tocada dessa forma, volto para o livro - que muitas vezes me toca mais que a própria música, mas extrai de mim o silêncio, tão puro e tão significativo como a própria música, pois traz em si algumas notas e, dessa vez, sei que minha alma que é o arco - baquetas ou seja lá o que for que extrai esse sentimento do silêncio transformando-o em música. Sei que aquela música faz parte de mim, pois é o que sou, é o que sinto, é o que não sou e, portanto, o que também não sinto. 

Mas por que estou a falar de música, se o assunto central é você? Desculpe-me a grosseria, mas não queria soar assim ao dizer que você não é o centro de nada em minha vida. Aliás, sequer existe um centro nesse mar confuso que chamo de vida. Sei que você, um mero pescador - ou talvez não tão mero, só pela coragem de entrar nesse mar revoltoso dentro de mim -, só teve a intenção de buscar algo que está perdido apenas nessas minhas águas, mas que não há isca que faça com que você pegue. É preciso que você mergulhe fundo em mim. Mas em meu mar há coisas tão desconhecidas, estranhamente belas e belamente estranhas, que não gosto que outras coisas apareçam sem que eu conheça plenamente as que já estão aparecidas - e parcialmente escondidas - entende?

Bom, esse mar dentro de mim ficou mais agitado que já é, embora eu sempre ignore essas agitações, pois eu gosto mesmo é de tranquilidade. E cansado de se revoltar para que eu não preste atenção, ele se acalma e deixa eu manter meus pés ali, naquele raso, onde não piso e não quebro nenhuma concha, pois elas preferem as profundezas de mim. E você, ali dentro, fazendo tudo se agitar de novo. Mas eu levanto meu olhar, garoto. E, vou/fui ao seu encontro. Porque não sei em que tempo estou. Não sei se te perdi ou se você só está oculto no meio dessas ondas altas. Parece que te perdi de vista. Ou parece que te perdi, não sei. Mas bem, já perdi tantas coisas dentro de mim. Fora também. Costumos esquecer onde coloco meu óculos e saio por aí dizendo que o perdi, sabe? E, ele está dentro de minha casa, só não sei onde. bom, tenho que encontrá-lo, porque agora que dei por mim que estou sem ele, parece que as linhas ficaram embaçadas, e preciso ver claramente por onde estou indo com estas palavras, se é que me entende. 

(Pausa)

Bom, procurei meu óculos em vários lugares e, quando desisti e pensei em forçar um pouco minha vista, ele estava ao meu lado. Incrível essa coisa de não notarmos as coisas ao nosso lado, não é mesmo? Ou até mesmo quando já está em nós, porque sempre perco os meus óculos na gola de minha blusa. O pior, é que outras pessoas enxergam. Vê o nosso desespero e ficam rindo. Bom, só não roubaram meus óculos porque há poucas pessoas com o mesmo problema que eu - ou melhor, há muitos míopes, mas há uma certa variação no grau, entende? Meu óculos foi feito para mim. Minha armação é ajustada para o meu rosto, as lentes possuem o grau exato para amenizar meu problema e talvez isso seja o que torna o óculos tão meu, mas não tão meu assim, pois às vezes aparece alguém que pode usar a minha armação e o grau e a lente de correção é a mesma. 

Enfim, cadê você? Sabe, dei uma olhada ao meu lado, mas realmente não está aqui. E agora com os meus óculos, nem mesmo longe posso vê-lo. Onde está você, garoto? Não se afogue neste meu mar. Eu não suportaria perdê-lo dentro de mim. Encontrou o que procurava e foi embora? Parabéns. Isso que levou de mim faz com que você se sinta bem? Um vencedor? Caí na isca, na sua rede? Capturou? Leve, garoto. Não me importo mais. Meu mar é grande. Mas eu gostaria de encontrá-lo uma vez mais. Bom, voltarei para a praia agora. 

Vou ler meu livro, ouvir minha música e tomar meu café frio. Pelo menos continua amargo. Ou melhor voltar para a cama, pois não haverá sol?

Bloodstained Alice